Perdidos em Aokihagara

Aokigahara, uma densa floresta situada na base noroeste do Monte Fuji, também é conhecida como Jukai que significa Mar de Árvores. A floresta cresceu sobre as lavas do Monte Fuji que entrara em erupção no ano de 864. Os pontos turísticos é uma atração para os aventureiros. Entretanto, há um limite entre o ponto turístico e o local restrito da floresta, sendo esse, o lado sombrio desse mar de árvores. Cujo lado, Mary fora alertada por seus colegas do passeio turístico. Mas a curiosidade e independência da garota a fizeram seguir adiante, e sem perceber se afastara demais do grupo.  Ignorando o fato de estar longe do seu grupo e além dos diversos avisos sobre a facilidade de se perder naquelas redondezas, Mary, cabeça dura que era, seguiu adiante.
Sua teimosia ainda te levará para o buraco! Podia ouvir nitidamente sua mãe ralhando enquanto era viva. Sorriu, balançando a cabeça em negação.
Não entendia o porquê de tanto cuidado com aquele lugar, era apenas uma floresta, ora bolas! E mesmo se ela se perdesse, ainda tinha uma bússola, poderia muito bem encontrar o caminho de volta. E confiante, seguiu seu caminho.
Conforme ia caminhando para dentro daquela densidade toda de árvores, ela sentia o ar pesando mais e mais. No começo ignorou, mas a cada passo dado, o ar sombrio e o silêncio da floresta faziam com que suas mãos começassem a suar. E não era de calor. Com a respiração já descompassada, agora ela começara a hesitar em continuar adentrando a floresta. Não sabia o que estava sentindo, mas tinha certeza de que coisa boa não encontraria ali. Seu sexto sentido a alertava que deveria voltar. Porém, a curiosidade permanecia maior que qualquer outra coisa.
Não fazia ideia de quanto tempo se passara, seu estômago já começava a reclamar. Pegou um pacote de bolachas e o comeu em poucos minutos. Decidiu descansar perto de alguma árvore. Depois disso voltaria para perto do grupo. Já saciada da fome e com os pés descansados, fez menção de se levantar, porém algo a deteve. Alcançou o objeto e identificou como uma carteira de motorista. Estranhou o fato de um documento estar jogado num lugar tão... improvável. Deixou o documento no mesmo lugar que estava e começou seu caminho de volta. Mas o que ela não sabia era que tudo o que encontraria adiante a perturbaria para o resto de sua vida.
Caminhava, caminhava, caminhava, mas nada de encontrar o caminho que usara para chegar até ali. Se lembrou da bússola e respirou aliviada, ainda tinha como sair. Mas assim que a chegou, sentiu seu coração falhar ao se deparar com os ponteiros do instrumento desalinhados. Agora ela estava preocupada de verdade.
Agora sem rumo, Mary começava uma longa caminhada em busca da saída daquela floresta. O ar que antes estava sombrio, agora passara para macabro. O silêncio era ensurdecedor. A única coisa que ouvia ali era o som da sua respiração descompassada.
– Tem alguém aí?!
Gritou com toda a força de seu pulmão. Mas tudo o que recebeu como resposta, foi apenas um leve eco de sua voz. Caminhando apressadamente e sem rumo, ela se perdia cada vez mais. Quando todas as esperanças já se esvaiam, eis que enxerga a silhueta de alguém encostado no tronco de uma árvore. Respirou aliviada e se aproximou do indivíduo. Portanto, o que ela viu fez seu coração dar um forte solavanco e suas pernas falharem. O que ela vira era o corpo de alguém que cometera suicídio. Ele estava pendurado em uma corda, e pelo avançado estado de decomposição que o corpo se encontrava, era possível deduzir que aquele homem cometera suicídio há muito tempo. Quando o pânico passou, ela se deu conta de que aquela floresta era amaldiçoada. Sentiu o coração apertar e pediu clemência à Deus pela alma daquele homem. Não era tão religiosa, mas sabia que suicídio era um pecado imperdoável.
Mary podia dizer que agora estava realmente perdida. Passara horas desde que entrara na floresta. E seu sexto sentido estava certo, aquela floresta tinha uma energia extremamente negativa, chegava a sufocar. E para o seu grande azar, ela encontrara mais corpos espalhados pela floresta. Chegou a ponto de culpar quem cuidava daquele local, como eles não tinham capacidade de recolher aqueles corpos para, ao menos, dar um funeral digno àquelas vítimas? Sorriu amarga, reprovando seus pensamentos. Afinal, quem era ela para culpar alguém? Ela que não dera ouvido às pessoas que a alertaram sobre se aproximar desse local e mesmo assim o fez? De fato, se sentia ridícula. Tão ridícula que não percebera que lágrimas já umedeciam seu rosto. Se lembrou de sua família, seus amigos, seu cachorro de estimação, e se questionou se um dia voltaria a vê-los outra vez.
Já sem forças para caminhar, ela caiu de joelhos naquele chão duro, e se deixou ser tomada pelo pranto. Queria encontrar o caminho de volta, pois já estava escurecendo. E estava fora de cogitação passar a noite em uma floresta assustadora como aquela, juntamente com cadáveres. Num ato de desespero, ela começou a gritar:
– Tema alguém aí?! Por favor, me responde! Eu estou perdida, não consigo encontrar o caminho de volta. – Sua voz ficava mais e mais fraca, até que suas últimas palavras não passavam de sussurros angustiados.
Levantou sua cabeça em alerta quando ouviu galhos se quebrando. Sua espinha gelou e seu coração começou a bater descontroladamente. Ela estava perdida numa floresta, e já estava consideravelmente escuro, não tinha ninguém além dela e dos cadáveres ali. Então quem poderia ser? Sua audição aguçada, começara a ouvir passos. A medida que os passos iam se aproximando, seu coração ia acelerando mais. Não teve coragem de se virar, pois temia o que poderia ver, mas o terror tomou conta quando sentiu uma respiração atrás de si. Mas ao sentir uma mão fria segurando seu ombro, não aguentou mais e desmaiou.
Quando acordou, sentiu sua cabeça latejando. Se levantou com brusquidão e tentou se recordar de onde estava. Assim que sua mente clareou e lembrou dos últimos acontecimentos, ela soltou um grito. Tudo o que ela enxergava era a fraca e oscilante luz de uma vela. Se acalmando, ela passou a tentar identificar onde ela estava. Achou estranho, pois quando desmaiara, ela estava no meio de uma trilha, e o local onde se encontrava agora era uma espécie de barraca de camping. Ficou em silêncio quando ouviu uma movimentação fora da barraca. Seu coração voltava a bater forte, e olhou fixamente para a entrada da barraca. Tinha certeza que fantasma não era, pois como seria possível um fantasma leva-la até uma barraca? Viu um vulto negro passando pelo buraco da barraca, seu coração ainda batia forte. Tentou olhar para o rosto do ser, mas este não a olhava diretamente ainda.
– Quem é você?!
O ser a olhou, finalmente. Ela se assustou com a aparência daquela pessoa. Era um rapaz jovem, se tivesse vinte e cinco anos ainda era muito. Mas o que ela se questionava era sobre o motivo de ele estar ali.
– O que faz num lugar como esse? Como é o seu nome?
– O quê? – Respondeu em japonês.
Mary riu com sua estupidez, óbvio que ele não sabia sua língua, ele era japonês, ela estava no Japão, numa floresta que só tinha suicidas japoneses. Queria o quê?
– Como você se chama? – Perguntou em japonês dessa vez. Com seu pobre e arrastado japonês.
– Akira.
– Hm, eu sou a Mary. O que você faz aqui?
– O mesmo que você.
– Ah, você se perdeu também? Agora entendo o porquê da barraca e tudo.
– Espera, você não veio para... ah, deixa quieto!
Mary tentou manter conversa, mas o rapaz não lhe dava atenção.
– Vejo que você fala bastante... – se condenou pela sua tentativa ridícula de fazer uma piada.
Akira continuava quieto. Seus olhos estavam fixos na mochila de Mary. Como que adivinhando o pensamento do jovem, Mary pegou a mochila e tirou uns pacotes de bolacha.
– Aqui. – Entregou um para Akira.
Este hesitou um pouco em aceitar. Mas acabou cedendo.
– Estou vendo que você se perdeu faz tempo, né? Pois pelo o que eu vi, não tem alimentos nessa barraca...
– Eu não me perdi. – Interrompeu, o jovem, de boca cheia.
– Não? Então o que você faz aqui? Eu achei que você estivesse com... – De repente Mary teve um lapso de memória das cenas que vira por ali – ... não vai me dizer que...
– Sim.
– Por quê?
– Não há razão, simples.
– Não há razão para o quê?
– Para nada.
– Como assim para nada?
– Simplesmente não há razão.
– E você pretendia o que exatamente? Vir acampar aqui e morrer as minguas?
– Eu estava a ponto de pular daquele tronco quando ouvi você gritando.
Mary engoliu em seco, sem querer ela impedira um suicídio.
– E por que veio me ajudar?
– Não sei. Minhas pernas se moveram sozinhas.
– Mas se você desistiu de tirar a própria vida apenas para salvar alguém, significa que você ainda tem uma razão...
– Não tenho razão para nada!
– Como não?
– Você não entende! – O jovem começava a se alterar.
– Óbvio que eu não entendo! Você não explica!
– Não há razão para viver, garota! As pessoas são egoístas. Única preocupação que elas têm é com o saldo bancário que terá no fim do mês! Aqui não tem amor, não tem empatia, não tem afeto. Não há razão para viver em uma sociedade tão individualista! Não há razão para conviver com pessoas tão mesquinhas e egoístas!
– Hipócrita!
– O quê?
– Você é um hipócrita!
– E por que você diz isso? O que eu fiz?
Mary não conseguindo controlar mais suas emoções, explodiu:
– Você é um egoísta! Você fala das pessoas individualistas, mas se encaixa certinho nesse padrão! Você não tem amor, não tem afeto e não tem empatia com a única pessoa mais importante para si: Você mesmo! Como pode condenar uma sociedade sendo que você faz parte dela?
– ...
– Olhe para mim, até agora há pouco eu estava aos prantos, lutando com todas as minhas forças para encontrar o caminho de volta. Lutando com todas as minhas forças para conseguir viver mais um dia! Eu senti na pele o medo de não poder acordar amanhã. Eu senti na pele o pesar daquelas almas que estavam perdidas e buscando um jeito mais fácil de amenizar a dor. E você? Você aí tentando acabar com sua própria vida! Você não pensa em ninguém? Não pensa na sua família?
– Como você pode dizer essas coisas? Como você pode equiparar sua dor com a minha? Você não passou nem metade do que eu já passei!
– Como você pode saber?
– Só pela sua cara já sei que você tem uma vida feliz!
– Está errado. Também tenho meus demônios para combater todos os dias.
– Ah, é? Me diga um aí.
– A ausência da minha mãe.
– Onde ela está?
– Ela perdeu para um câncer no útero.
Akira ficou desconcertado com a revelação daquela garota.
– E meu pai se aprofundou nas bebidas e jogos, e acabou falindo. Vendeu tudo o que ele e minha mãe juntaram a vida toda apenas para pagar a dívida.
Akira permaneceu em silêncio. E Mary continuou falando:
– Eu passei minha adolescência toda ouvindo piadinhas maldosas de meus colegas sobre a minha situação financeira. E mesmo com todo o peso e saudades da minha mãe, eu consegui terminou o ensino médio. Entrei numa universidade renomada com muito esforço. Eu conquistei muitas coisas, sabe? Mas ainda assim não sou cem por cento feliz. Eu queria ter minha mãe. Eu queria ter o meu pai. Eu queria que minha vida fosse diferente, sabe? Mas eu nunca pensei em desistir. Sempre batalhei para conseguir tudo o que eu queria. Minha mãe sempre pegava no meu pé por causa da minha teimosia, mas isso eu herdei dela. Ela viveu anos com o câncer e se recusava em entregar o jogo. Sinto orgulho da minha mãe, da força dela. E sinto mais orgulho ainda em saber que a força de vontade dela vive em mim.
Mary lutava contra as lágrimas que insistiam em cair em cascatas. Akira apenas permanecia imóvel. Ouvir aquela declaração de alguém desconhecido era demais para ele. Mas em vinte e dois anos de sua existência, era a primeira vez que sentia o calor das palavras acolhedoras vindas de alguém.
– Eu não sei o que se passa na sua vida, Akira. Mas eu sei que para tudo tem um recomeço. Mesmo que sem forças para lutar, você não deve desistir. O mundo é cruel, todos nós sabemos. Mas se tivermos força de vontade e positividade, essa crueldade poderá se converter em empatia e compreensão. Com amor ao próximo, poderemos construir um mundo melhor. Eu acredito nisso! Eu acredito que nós, seres humanos, temos muitas coisas boas guardadas em nossos corações, só nos basta saber usar essas coisas.
Akira permanecia cabisbaixo.
– Se você não quiser me contar seus problemas, eu entendo. Mas por favor, repense sobre tirar a própria vida. A morte é algo muito triste. E não é o melhor caminho, vai por mim.
Depois das palavras de Mary, o silêncio reinou entre os dois. Permaneceram quietos por alguns minutos. Mary se perguntava a que estava passando na mente do rapaz. Analisando assim, ela notara que ele tinha feições bonitas. Mas, algo em seus olhos denunciava um vazio. Ela sentiu muito por ele. Queria ajudá-lo. Sentia a necessidade de ajuda-lo.
– Eu fui acusado de algo que não fiz.
Akira quebrou o silêncio.
– O quê?
– Me acusaram de roubo.
Mary pega de surpresa, tentou parar o rapaz.
– Não! Eu preciso contar isso para alguém. Eu sou o herdeiro da empresa do meu pai. Como ele faleceu há dois anos, eu tive que assumir, já que sou o filho mais velho. Meu pai deu praticamente a vida pela empresa. Tanto que morreu em um acidente de carro quando voltava de uma reunião com os acionistas. – Deu uma leve pausa, como se tivesse tomando fôlego – Foi uma época difícil para nós. Eu tinha apenas dezesseis anos quando meu pai morreu, e assumir a empresa do meu pai era um fardo e tanto para um adolescente. Mas mesmo sendo um pivete, eu o fiz. Afinal, aquela era a alma do meu pai. Minha mãe estava doente na época, e todo o lucro da empresa ia para o tratamento dela. E mesmo sendo novo, eu consegui segurar as rédeas e fazer a empresa crescer mais. Portanto, os lucros foram caindo gradativamente quando a concorrente de nossa empresa abriu uma filial bem no mesmo bairro. E você sabe, né? Pessoas sempre optam pelo mais barato, mesmo não tendo total qualidade. E assim, nossa empresa quase faliu. Entretanto, com afinco eu conseguiu fazê-la reerguer. Minha mãe já estava praticamente curada e me auxiliou muito. Mas como nada é um mar de rosas, os inimigos do meu pai conseguiram se infiltrar na nossa corporação usando laranjas para isso. Desviaram rios de dinheiro e passaram a fazer serviços ilegais em nome da empresa. Tudo isso por debaixo dos panos. Eu não tinha conhecimento de nada disso. E em um certo dia, os investigadores acabaram descobrindo esses serviços ilegais e aquela roubalheira toda, e para quem isso tudo sobrou? Exatamente, para o dono da empresa!
Akira cerrou as mãos com força e mordiscou os lábios numa tentativa de se acalmar. Mary apenas ficou em silêncio, ela vira na televisão a reportagem sobre o jovem dono de uma empresa que estava envolvida com lavagem de dinheiro. E que desaparecera assim que a notícia se espalhara. Mary estava incrédula de que o jovem à sua frente era o mesmo da notícia e que ele era totalmente inocente.
– Mas por que optou pela morte se você não tem nada a ver?
– Porque eu estava recebendo ameaças. E creio também que o acidente que matou o meu pai foi criminoso.
– Por quê?
– Porque eu recebia ameaças pelo meu e-mail, e num desses e-mails, estava a seguinte frase: “Nós conseguimos derrubar o falcão, mas ainda resta seu filhote. ”.
Mary se assustou com isso. De fato, ela jamais saberia o que se passava na pele dele.
– Mas tudo vai dar certo no final!
– Como pode ter tanta certeza?
– Os justos não perecerão. Você vive no Japão, aqui é um país de lei!
Akira, depois de muito tempo, sorriu.
– Me pergunto se você é uma doida ou um anjo que caiu de paraquedas.
– Sou uma doida que se perdeu em uma floresta.
Assim eles continuaram conversando até o amanhecer. Assim que o dia clareou, saíram da barraca.
– Vamos procurar o caminho de volta?
– Eu não vou.
Mary o encarou com raiva.
– Não acredito!
– Vá na frente. A minha vida já acabou!
– Não acabou, não!
– Acabou.
– Por que você diz isso? Sua mãe deve estar preocupada com você.
– Eu duvido. Ela nunca sequer me deu um abraço. – Disse o jovem de cabeça baixa.
– Então você sente falta de um abraço?
– Sim.
– Okay, então. Se esse é o problema... – assim Mary se aproximou de Akira e o abraçou forte. Um abraço cheio de sentimentos bons. Nem o clima sombrio daquela floresta era capaz de romper aquela barreira de conforto e paz daquele abraço.
Akira sentiu os olhos umedecerem. Nunca em sua vida sentira um calor tão calmante. Nunca em sua vida ouvira palavras tão reconfortantes. Se desfizeram daquele abraço quando ouviram pessoas chamando pela Mary.
Sem acreditar, Mary se virou em direção àquelas vozes. Assim se deparou com um monte de pessoas. Era a equipe de resgate e seus colegas de turismo.
Sua melhor amiga, com lágrimas nos olhos pulou em cima da garota.
– Onde você se meteu, garota? Quase me matou de preocupação!
Depois de choro de alívio, eles finalmente notaram a presença de mais alguém.
– E esse, quem é?
– Ah, esse é o meu salvador!
Akira não estava entendendo nada do que Mary dizia. Mas pelo sorriso dela, ele já tinha uma ideia.
– Espera! Você é o garoto Akira? Yamamoto Akira?
– Sim...
– Você está vivo, que bom!
– Por que “que bom”? É para eu estar atrás das grades.
– Não, garoto! Um dos laranjas falou demais e acabaram descobrindo tudo. E ele entregou cada um dos envolvidos, até o mandante de tudo. Estão todos presos. Você foi inocentado, garoto!
Mary ouvindo aquela conversa, olhou para Akira, sorrindo de orelha a orelha.
– Falei! Falei que você não devia desistir?! Falei que os justos não pereceriam?!
Akira sorriu emocionado. Agradecendo profundamente por aquele ser de sorriso tão brilhante tivesse gritado no naquela hora, o impedindo de pular do tronco.
– Agora vamos para casa! Vocês deram trabalho demais! – Disse o líder de equipe de resgate.
Assim que saíram da floresta, havia uma aglomeração. Equipe da TV, e mais um bando de espectadores. Akira arregalou os olhos quando viu alguém tentando ultrapassar aquela barreira de pessoas. Era a sua mãe. Sua mãe estava ali.
– Mãe...
– Akira...
– Como você sabia que eu estava aqui?
– Coração de mãe não se engana, meu filho...
À essa altura, a emoção já tomava conta dos dois.
– Estou de volta, mãe.
– Seja bem-vindo, meu amado filho!
E então, como qu combinado, os dois se aproximaram. E com a força do amor materno, derrubaram aquela barreira que os separavam. Com lágrimas e soluços, mãe e filho matavam a saudade naquele abraço carregado de amor e cumplicidade. E assim, o coração de Akira que antes era gelado, foi esquentando aos poucos. Finalmente sentiu a emoção de ter uma família. De sentir o amor de família.
Assim que se largaram, os dois caminharam até Mary, que assistia tudo com um sorriso emocionado.
– Muito obrigada, garota!
– Nunca mais largue esse rapaz!
– Jamais! Nunca mais deixarei meu filho sozinho!
Em seu íntimo, Mary se sentia eufórica. Queria muito contar para a sua mãe o que havia acontecido. Aquela loucura toda. Mas ela sabia que sua mãe de algum lugar estava vendo. E a brisa que brincava com seu cabelo, era como se ela estivesse dizendo: “Estou orgulhosa de você, filha!”
Meses se passaram, depois de um abraço demorado entre Akira e Mary, e agradecimentos infindáveis daquela mãe, a vida voltava ao normal. Mary retornara a seu país de origem, levando sempre em seu coração aquela lição. Era sempre bom ajudar os outros.
Ligou a TV e viu que estava passando notícia internacional. E se assustou ao ver quem era o entrevistado: Akira.
O dublador da reportagem, traduzia o que o jovem falava:
– Eu resolvi ingressar na universidade para cursar psicologia depois que eu tive uma experiência terrível. Depois que eu tentei tirar minha própria vida, eu percebi o quanto pessoas precisam da gente. E também, por causa de um anjo que apareceu no momento em que mais precisei, me dizendo as seguintes palavras: Com amor ao próximo, poderemos mudar o mundo!
Mary não segurou as lágrimas de felicidade. Ela sabia que apesar da distância, o elo entre eles era gigante. E não seria rompido tão facilmente. E ficou feliz em ver que os olhos vazios de Akira, agora brilhavam de esperança e ânsia em ajudar o próximo.


FIM.


Nota da autora: Essa é uma estória irreal, criada por mim. Eu sempre pesquiso muito sobre suicídios e os motivos para tal. Então, como o histórico dessa floresta é de uma assombrosa taxa de suicídios, eu decidi criar esse texto. Aqui teve final feliz, mas na vida real não tem. Suicídio é algo extremamente triste e que não deve ser levado com leviandade. Pessoas sofrem, pessoas tem dor, pessoas tem sentimentos. É desumano alguém ser tão apático à essas situações. É doloroso ler comentários de ódio, e de pessoas fazendo piadinhas com quem comete suicídio. Quem opta por isso não deve ter uma séries de motivos para tal, então se você não entende a dor, não abra o bico para falar mal. Mas se você é compreensivo e quer que diminua, então deve fazer o máximo para mudar. Pois esse assunto leva a outro fator: Depressão. Quem já teve sabe o quanto é difícil de ligar com o dia-a-dia. Sabe o quanto é doloroso se sentir sozinho. Então, faça a sua parte. Repeite os limites das pessoas. Não compare a dor de ninguém, pois isso só te faz uma pessoa arrogante e desumilde. 

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