Codinome Hadassa - I

Capítulo I


A garota olhou mais uma vez através do vidro embaçado da janela do ônibus, a sua humilde cidade sendo deixada para trás. Sentiu um aperto no peito. Não queria deixar sua família para trás, mas era o melhor a ser feito naquele momento.
Amanda nasceu e cresceu numa cidade no interior do Espírito Santo. Ela era feliz lá. Tinha amigos na vizinhança toda. Brincava o dia inteiro até dar a hora de sua mãe colocar a cabeça para fora da janela e gritar para ela entrar para tomar banho e jantar. Enfim, uma infância normal para uma criança do interior.
Estudou muito para finalmente conseguir sair do colégio e entrar numa faculdade. Apesar do sacrifício ela conseguiu concluir o ensino médio.
Até os dezesseis anos ela pensava em cursar faculdade de Direito para assim se tornar uma renomada advogada e dar orgulho aos seus pais. Mas seus planos não foram bem assim quando ela se deparou com a cruel realidade.
Em seu sonho de menina, o mundo era um mar de rosas, onde não havia maldade e nem ganância por parte de outras pessoas a sua volta.
Quando completou dezesseis anos, ela se formou no colegial. Era uma vitória e tanto para os moradores locais daquele fim de mundo. Amanda era vista como o prodígio da família e da cidade toda.
Tudo estava indo conforme planejara, até a chegada daquele jovem.
Jovem rico, instruído e melhor aluno do colégio mais caro da cidade grande. O qual fez o coração de Amanda palpitar.
Bem, seu interesse era recíproco. O rapaz também se interessou pela menina dos olhos cor de mel. Logo os dois começaram a conversar e assim surgiu um sentimento avassalador. Sentimento qual levaria Amanda ao primeiro desastre.
Numa festa onde jovens ingeriam bebidas alcoólicas e outras drogas ilícitas. Amanda também queria mostrar que fazia parte daquela juventude sem limites. Se drogou pela primeira vez e assim se soltou. Se soltou muito e no outro dia amanheceu nua numa cama que não era a sua. Olhou em volta tentando entender o que havia acontecido, mas tudo o que encontrou foi um bilhete escritos as pressas. Um soco no seu estômago doeria menos do que aquelas palavras proferidas no tal bilhete.
O primeiro amor, o primeiro namorado e o primeiro homem só tinha usado-a para benefício próprio.
Sentada na cama, com a cabeça latejando por conta da quantidade exagerada de álcool que ingerira noite passada, ela chorou. Se sentindo imundo, impura e usada.
Voltou para casa, seus pais preocupados a abraçaram forte e questionaram se ela estava bem.
E não, ela não estava!
Ficou deprimida por um período. Não conseguia comer direito e quando comia, jogava para fora em seguida. O medo foi tomando conta, e se ela tivesse engravidado? Não! Ela não podia ter engravidado! Seu pai lhe mataria, sua mãe ficaria muito triste e seus irmãos? Como explicar que a irmã deles, modelo de decência fosse na verdade uma vadia que se entregava logo para o primeiro que aparecia na sua frente?
Aquilo não podia estar acontecendo.
Semana se passaram. Semanas de muita angústia para Amanda. E finalmente encontrou um jeito de fazer teste de gravidez escondida. E o resultado? Não poderia ser pior.
E agora? Grávida e solteira. Seu namorado tinha sumido do mapa. Seus pais não desconfiavam de nada. Como fazer para esconder a barriga que um dia cresceria?
Foi aí que teve uma ideia. Uma ideia que a mudaria completamente. Ela abortaria a criança. Afinal, não era sua culpa! A culpa era do vagabundo que tinha lhe usado e jogado fora.
Mentiu para os pais que viajaria com uma amiga por um período. Seus pais acreditaram nela e permitiram.
Assim ela viajou por duas semanas. O tempo suficiente para fazer o tal aborto. Com a ajuda da amiga pagaram para o aborto ser realizado.
Certo. A responsabilidade de ser mãe aos dezesseis anos já tinha sido jogada fora.
Agora era hora de voltar para casa. E como enfrentar a dura realidade? Ela já não era mais a mesma! A culpa já começara a tomar conta.
Decidiu que não demonstraria nada. E assim o fez.

Dois anos se passaram e sua vida aos poucos voltou a ser como era antes. Mas o que ela havia feito, jamais seria esquecido. E tentava a qualquer custo ignorar os fantasmas que lhe vinham assombrar a noite.
Seus pais jamais desconfiaram que a filha já tivesse feito coisa tão horrível, ou era isso que ela pensava.
Quando chegou na maioridade, seus sonhos aumentaram. Ela já não queria mais passar horas e horas estudando. Era cansativo demais. Ela queria conhecer o mundo. Fazer amizades, conhecer pessoas. E assim o fez.
Em um final de semana qualquer, deixou suas coisas prontas já e na calada noite fugiu de casa. Deixou um bilhete grudado na geladeira avisando que não tinha planos de voltar tão cedo. Os pais, coitados, sofreram muito com a partida da garota.

Amanda então chegou, depois de longas horas de viagem, ao seu destino. Capital do Espírito Santo. Cidade grande, gente legal e tudo o que há de bacana para oferecer a uma simples menina do interior. Entretanto, não era aquilo que ela queria. Ela queria ir além. Além do Estado do Espírito Santo.
Conseguiu trabalhar de garçonete por alguns meses e com o pouco que ganhara, bancou a viagem até o Rio de Janeiro.

Agora sim! Ela conseguira chegar ao lugar perfeito! E mais uma vez, era o que ela pensava.


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